Se 2020 foi um bom ano para o mercado vinícola no Brasil, 2021 foi espetacular graças ao rápido aumento mensal do número de pessoas que bebeu vinho. Há agora mais que o dobro de consumidores de vinho no Brasil do que havia em 2010, com uma penetração global de consumo mensal entre a população adulta de cerca de 36%, uma proporção semelhante aos EUA, mas ainda cerca de metade dos mercados europeus mais maduros.

Tal como acontece com muitos sucessos da noite para o dia, a revolução do vinho no panorama brasileiro já está em construção há algum tempo. “Há alguns anos, empresas de vinho profissionais e inovadoras – importadoras e produtores nacionais – investem em produtos de boa qualidade e implantam a tecnologia mais recente para criar vários pontos de contato com os consumidores, incluindo operações de comércio eletrónico de classe mundial”, observa Rodrigo Lanari, Country Manager Brasil da Wine Intelligence.

O surgimento do COVID-19 em 2020 foi o catalisador de uma grande mudança no estilo de vida do brasileiro e na relação dos mesmos com o álcool. Com uma população relutante – ou incapaz – de fazer compras e socializar como costumava fazer, os brasileiros adaptaram-se às novas normas comportamentais. Neste ambiente, o vinho teve um efeito multiplicador: era uma bebida mais reflexiva, de convívio mais discreto; era uma novidade interessante num momento em que outras distrações eram restritas; e o mais importante, foi facilmente adquirido por meio da variedade de aplicações e ofertas omnichannel agora disponíveis no Brasil. Esta demanda levou os players tradicionais de tradeoff, como é o caso dos supermercados, a também melhorarem as suas ofertas e serviços de vinho.

O momento de qualquer categoria de produto é duramente conquistado e facilmente perdido. Será que o do vinho vai continuar? Para abordar esta questão, é preciso entender os fatores push (cadeia de suprimentos) e pull (consumidor) e pensar na forma como estes podem mudar no futuro.

O fator pull primeiro. Os consumidores brasileiros descobriram durante a pandemia que uma taça de vinho é uma excelente companhia para ocasiões discretas em casa. À medida que o país aprende a conviver com o COVID-19 e mais algumas voltas à normalidade, os hábitos anteriores serão reafirmados? Claramente haverá alguma reversão às velhas normas, mas as evidências deste relatório sugerem que os novos enófilos estão igualmente envolvidos na categoria e usam o vinho de maneira semelhante aos consumidores de vinho habituais. A única potencial disrupção a ter em conta é o avanço de outras categorias, especialmente gin e bebidas embaladas, que também tiveram um forte crescimento no Brasil nos últimos anos. O gin, por exemplo, cresceu num volume CAGR (taxa de crescimento anual composta) de 74% entre 2015 e 2020, e está previsto um crescimento de 14% no volume CAGR entre 2021 e 2025, de acordo com dados do IWSR.

Os brasileiros em geral também podem voltar à cerveja à medida que as interações sociais recomeçam. Pesquisas do IWSR mostram que, em todo o cenário de bebidas alcoólicas, as pessoas estão a alternar cada vez mais entre as opções de bebidas ou a testar novas categorias. Dos 10 principais países estudados, o Brasil teve uma das maiores taxas de incidência de consumidores a testar novas categorias ou marcas de bebidas no primeiro semestre de 2021.

Para o fator push, parece provável que a cadeia produtiva do vinho brasileiro continue a fazer um trabalho muito eficaz de atender às expectativas do consumidor em termos de produtos interessantes a preços bastante atraentes. Aqui, os ventos contrários podem vir de pressões econômicas mais amplas – maior desvalorização da moeda brasileira, aumento dos custos de insumos para produtores domésticos e importadores, e aumento dos custos de transporte para o último grupo, especialmente. As pressões de preços serão sentidas em toda a economia em 2022, e o vinho terá que lutar muito para preservar a sua proposta de valor.

 

Este texto é uma tradução e adaptação do artigo original da Wine Intelligence

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