Natural de Angola, Chimene Geitoeira veio viver para Portugal com apenas sete anos, na região do Ribatejo. O seu sonho era trabalhar em algo que possibilitasse conhecer outros locais, estar ao ar livre e em contato com a natureza. Foi, então, que decidiu se tornar enóloga e canalizar toda a sua paixão para os vinhos que produz.

Formada na Escola Superior Agrária de Santarém, o percurso de Chimene no mundo dos vinhos começou logo que terminou o curso. Depois de dez anos trabalhando para a mesma empresa, surgiu uma oportunidade irrecusável e Chimene iniciou um novo projeto.

Chimene Geitoeira - Enóloga

Enóloga há 15 anos na SIVAC, Chimene Geitoeira conta como foi abraçar este projeto. Vamos ver como tudo começou?

Acompanhe a nossa entrevista.

Como começou o seu percurso na enologia?

Na verdade, nunca estive em contato com o mundo dos vinhos enquanto era criança. Nasci em Angola e vim para Portugal com apenas 7 anos e vivi na Moita, na região do Ribatejo, durante quase toda a minha vida. Quando terminei o 12º ano tinha como objetivo ingressar num curso que me permitisse estar ao ar livre, conhecer outros locais e estar em contato com a natureza. Pensei em concorrer a Engenharia Florestal ou a Engenharia Agronômica, em uma universidade que se localizava perto da minha área de residência. No entanto, uma das minhas opções foi também candidatar-me à Escola Superior Agrária de Santarém e foi exatamente onde fui parar. Acabei por terminar o curso e começar logo a trabalhar na área, numa empresa de vinhos a granel, na qual permaneci por dez anos. Digamos que esta decisão alterou a minha vida por completo, pois passei a viver perto do campo, no Cartaxo, e acabei por constituir família por cá.

E hoje você é enóloga na SIVAC, correto?

Sim, isso mesmo. Ao fim de dez anos a trabalhar na mesma empresa, surgiu a oportunidade de fazer parte de um novo projeto da SIVAC, no ano de 2005. Na altura, a empresa estava a construir novas instalações e uma adega de raiz, com tecnologia avançada e excelentes condições de trabalho. Quando me convidaram para abraçar esse projeto não tive como recusar. Entretanto, já cá estou há 15 anos a trabalhar como enóloga.

No que se refere à SIVAC, o que mudou durante os últimos dez anos?

Houve um crescimento muito grande, desde que estamos a trabalhar nestas instalações. Começamos a trabalhar mais os vinhos premium, vinhos mais elaborados e com certificação I.G.P.

Chimene Geitoeira - Enóloga

Qual a maior diferença entre produzir vinhos a granel e vinhos I.G.P?

Na verdade, a diferença não é notória. Talvez tenhamos um maior cuidado, pois a exigência é maior no que diz respeito aos vinhos I.G.P. No entanto, em relação à produção considero que não exista uma grande diferença. Para mim, produzir 10 mil ou 1 milhão de litros de vinho, acaba por ser igual. Atualmente, na SIVAC, somos capazes de vinificar cerca de 7 milhões de litros, portanto, não acho que exista uma grande diferença entre a produção a granel e a produção I.G.P.

Qual a casta que você gosta mais de trabalhar?

Gosto muito de trabalhar com a Syrah. É uma casta francesa que tem um aroma com muita fruta, uma forte presença de frutos silvestres e um toque de pimenta que aprecio bastante. Além disso, produz vinhos encorpados, mas com um toque aveludado e um tanto mais macio. Também gosto muito de trabalhar com Aragonês. É uma casta que tem um aroma mais floral e, por sua vez, casa muito bem com a Syrah. Juntas podem dar origem a vinhos mais aromáticos e intensos. Também gosto muito dos resultados da Touriga Nacional que, geralmente, dá origem a vinhos com uma cor mais intensa e mais profunda e tem um elevado potencial de envelhecimento. Penso que faz um blend entre o floral e o frutado muito interessante.

“O principal papel do enólogo é fazer vinhos de qualidade. Por isso se torna tão importante que estejamos presentes em todo o processo de produção”

Você tem maior preferência pelos brancos ou pelos tintos?

Para ser sincera, eu gosto de fazer ambos. Posso dizer que a minha preferência recai sempre por elaborar bons vinhos, independentemente do fato de serem brancos ou tintos.

E qual o seu estilo de vinhos?

Gosto de tintos e brancos mais jovens e mostro sempre a minha preferência pelo ano da colheita. Gosto do fato de nos brancos, serem vinhos mais frescos, aromáticos e com uma acidez mais notória. No entanto, nos tintos, também aprecio vinhos um pouco mais complexos e com madeira, mas gosto que a sua presença não seja demasiado evidente, para que o vinho não se torne seco na boca e desequilibrado. Mas tudo isto depende da ocasião, da comida e do estado de espírito. Se estiver a comer um prato mais elaborado, posso optar por vinhos com mais taninos e mais encorpados.

Na sua opinião, qual o principal papel do enólogo na produção de um vinho?

O principal papel do enólogo é fazer vinhos de qualidade. Por isso se torna tão importante que estejamos presentes em todo o processo de produção. Desde o momento em que a uva chega à adega, até o momento em que é engarrafado. Às vezes ouvimos falar de enólogos que sempre trabalharam com enólogos consultores, mas aqui na SIVAC sempre trabalhei sozinha. Tudo o que aprendi foi feito por mim e pelas minhas experiências.

Chimene Geitoeira - Enóloga

Do portfólio da SIVAC tem algum vinho que você gostou mais de produzir?

Penso que alguns dos vinhos Canto da Vinha. Quando entrei para a SIVAC essa gama não existia e os vinhos foram todos criados por mim. Por isso, talvez esses tenham sido aqueles que mais gostei de produzir, uma vez que fui a pessoa responsável por criar essa referência.

Tem alguma curiosidade relacionada à produção de vinhos?

Lembro-me de uma vez que estava a produzir a colheita de 2014 do Canto da Vinha. Na desencuba fui regada — literalmente — com vinho e fiquei molhada de alto a baixo. Recordo-me de ter dito no momento que tinha sido abençoada pelo vinho, mas na realidade aconteceu o oposto. Esse vinho acabou por ser condecorado com uma medalha de ouro num concurso mundial de vinhos — o Mundus Vini. Assim, o vinho é que foi abençoado.

Qual a sua maior fonte de inspiração?

Eu acho que a nossa melhor fonte de inspiração é gostarmos daquilo que fazemos. No entanto, também acho importante o reconhecimento que obtemos por parte da empresa na qual trabalhamos. É bom sentirmos que o nosso trabalho é reconhecido e que estamos a contribuir para o crescimento e sucesso da empresa. Por isso, a minha fonte de inspiração é fazer sempre cada vez melhor e ter, então, o tal feedback que me valoriza.

Se você tivesse de produzir os seus vinhos fora de Portugal, que região escolheria?

Talvez Bordeaux, em França. Pelo terroir, pela produção tradicional e por todo o meio envolvente que caracterizam a região. Aqueles castelos maravilhosos que lá existem são, sem dúvida, merecedores de uma visita.

Qual o seu conselho para os novos profissionais de enologia?

Há muitas coisas que os livros não nos ensinam. É importante haver troca de ideias e ouvir as experiências de outros enólogos. Mas também é preciso trabalhar, investir em formações contínuas e tentar sempre ser melhor. Hoje a enologia está em constante mutação e é necessário sermos capazes de acompanhar o ritmo. Diria, ainda, para não terem medo de arriscar e fazerem as suas próprias experiências, evoluindo ao longo do tempo. Na vida, quem não experimenta não pode fazer comparações.

E o que vem por aí? Quais são as novidades?

Relativamente a novidades, ainda não posso dizer com toda a certeza. No entanto, gostaria de produzir um vinho branco fermentado em barricas, com batonnage e que fosse mais encorpado. Mas ainda não tenho nada previsto, ainda se encontra tudo no patamar do sonho. Por enquanto estamos a trabalhar a colheita de 2017, 2018 e 2019 que já fazem parte do nosso portfólio.


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