Não é todo mundo que celebra os dias de cada uma das uvas. Mas como vocês sabem, aqui no Viva o Vinho nós sempre arrumamos alguma desculpa para comemorar. Então, procuramos em calendários de diversos países as festas das uvas mais populares — ou pelo menos aquelas que mais conhecemos. O Wine Calendar do portal Wine Folly indica que em 1º de agosto comemora-se o Dia da Alvarinho — e como essa é uma das castas mais famosas em Portugal, resolvemos marcar esse dia também na nossa agenda.

O Dia da Alvarinho foi criado na Espanha e marca a Fiesta del Albariño de Cambados, que costuma receber, em cinco dias de comemorações, cerca de 150 mil pessoas para provar vinhos e pratos típicos feitos a base desta casta. Já em Portugal, a festa é no final de abril ou início de maio, em Melgaço (região dos Vinhos Verdes), quando se homenageia tanto a Alvarinho quanto os fumeiros típicos da região. Como já devem imaginar, neste ano ambos os eventos foram cancelados, por conta da pandemia do coronavírus. Mas nem por isso deixamos de comemorar!

 

Bodega Granbazan, na Espanha, com vinhas de Alvarinho

A verdade é que tanto na região dos Vinhos Verdes quanto na Galícia — região da Espanha que faz fronteira a norte de Portugal —, a Alvarinho é a casta predominante e tem grande importância na produção dos vinhos. Os dois países até disputam onde a Alvarinho surgiu primeiro, mas ninguém ainda chegou a essa conclusão. Por isso, podemos dizer que a Alvarinho é uma casta com dupla cidadania.

Durante muito tempo pensava-se que Vinho Verde é feito de Alvarinho, principalmente fora de Portugal — no entanto, essa casta é apenas uma das utilizadas no corte. A região dos Vinhos Verdes permite o uso de muitas outras castas autóctones, entre elas Arinto, Avesso, Azal, Loureiro, Trajadura, Espadeiro, Padeiro e Vinhão. Mas não se pode negar que o mundo conheceu a Alvarinho pela fama dos Vinhos Verdes.

 

Características da Alvarinho

Vinhas de Alvarinho

A Alvarinho é uma casta branca vitis vinífera, que dá origem a cachos muito pequenos e medianamente compactos, o que a torna pouco produtiva. Dá origem a vinhos únicos, de personalidade e temperamento forte e facilmente identificáveis.

Essa casta desenvolve-se melhor em regiões de climas marítimos e solos pedregosos. Por ter uma pele grossa, pode sobreviver sem grandes problemas em ambientes frios. Seu acentuado teor de açúcar pode resultar em vinhos com alta concentração de álcool e acidez sem perder o equilíbrio.

Em Portugal, a sub-região de Monção e Melgaço, na região de Vinhos Verdes, é uma das preferidas para o cultivo de Alvarinho, justamente por apresentar as condições ideais de clima e solo. O local está próximo do Oceano Atlântico, mas conta com uma cadeia de montanhas que protege as videiras contra ventos excessivos vindos do mar. Essa composição também dá às uvas as horas de exposição ao sol necessárias para o processo de amadurecimento.

 

Vinhas de Alvarinho

De cor citrina e aroma exuberante, o Alvarinho é requintado, encorpado e robusto. É um vinho que se caracteriza pela elegância, equilíbrio e mineralidade. A acidez e a frescura tornam os vinhos desta casta vibrantes e alegres.

Nos aromas, costumam apresentar várias nuances de flores e frutas, como banana, pêssego, limão, maracujá, lichia, violeta e flor de laranjeira. Quando passa por barricas, o Alvarinho ganha um caráter mais complexo, trazendo notas de madeira, avelã, noz e mel. Na boca os vinhos monocastas de Alvarinho costumam trazer acidez elevada, frescor e um caráter mineral bastante presente.

 

Principais regiões produtoras

Região demarcada dos Vinhos Verdes

Além de Portugal e Espanha — que são os maiores produtores globais de Alvarinho, com 1.800 hectares plantados em Portugal e cerca de 5.500 hectares na Espanha — a casta já se disseminou por outros continentes. Hoje podemos encontrar produção de Alvarinho em países como Nova Zelândia, Estados Unidos, França, Argentina, Uruguai e Brasil.

No entanto, é em Portugal que a Alvarinho vive toda a sua plenitude. Da região norte o seu cultivo espalhou-se pelo país e hoje essa casta pode gerar vinhos DO ou IG nas regiões do Minho, Lisboa, Tejo e Setúbal. “No Tejo a produção de Alvarinho tem vindo a aumentar nos últimos anos e alguns produtores já comercializam vinhos exclusivamente com esta casta, como Agrovia (Quinta da Lapa), Alorna, Casal Branco, Casal do Conde, João Barbosa e Quinta dos Penegrais”, diz Luís de Castro, presidente da CVR Tejo.

 

Harmonização com Alvarinho

O cardápio para harmonizar com um Alvarinho é bastante amplo, porque as características do vinho, como a leveza, os toques frutados e a acidez, permitem que vários pratos façam uma combinação agradável para o paladar.

Por ter um alto índice de acidez e uma característica mineral, o Alvarinho encaixa perfeitamente com frutos do mar, especialmente aqueles com mais gordura. Assim, você pode apreciar uma taça com peixes gordos (como salmão, tainha ou sardinha), bacalhau assado ou grelhado, ceviches, frutos do mar em preparações mais fortes e ostras, por exemplo.  

Outra dica é combinar o Alvarinho com carne de porco, saladas, um risoto com queijo ou até alguns cortes de ave. A culinária japonesa, com seus sushis e sashimis, também é uma boa pedida para harmonização desse vinho.

O ideal é servir o Alvarinho entre 10 e 12 graus, fresco o suficiente para permitir que os aromas sejam exalados, mas não tão gelado a ponto de perder os toques frutados quando em contato com o paladar.

 

Melgaço, no Vale do Minho
Melgaço, no Vale do Minho

Curiosidades sobre a Alvarinho

Até pouco mais de 30 anos atrás, a Alvarinho era utilizada basicamente para produzir vinhos de corte, geralmente misturada com castas como Godello, Arinto e Treixadura. A partir da década de 1980, os viticultores e enólogos descobriram todo o potencial da Alvarinho e passaram a produzir vinhos varietais com essa casta.

Outra mudança nos últimos anos foi em relação ao uso de barricas de carvalho na produção de Alvarinho. Tradicionalmente um vinho fresco e mineral, para se beber jovem, o Alvarinho ganha mais complexidade e estrutura quando repousa algum tempo em barricas. Além disso, pode ser guardado por mais de dez anos, proporcionando uma experiência bastante diferente de quando provado logo depois da colheita.

 

Alguns vinhos Alvarinho que provamos e gostamos

Como moramos em Portugal há cerca de três anos, é natural que a grande maioria dos Alvarinhos que provamos seja português. Entre os que mais gostamos, listamos alguns abaixo, das regiões dos Vinhos Verdes e do Tejo:

 

 

Fontes:

Reserva85

Mistral

Wine

Crown Wines

Vine to Wine Circle


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