Marcando mais uma edição anual, a iniciativa ‘Fernão Pires do Tejo: da vinha ao vinho’, no final de agosto, reuniu amantes desta casta e dos vinhos do Tejo em evento na Quinta do Casal Branco. O Viva o Vinho marcou presença nesta iniciativa da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo), trazendo todas as novidades que conhecemos, sempre tendo a Fernão Pires como rainha.

Realizado desde 2018, este ano o evento foi sediado por mais um produtor do Tejo, a Quinta do Casal Branco, uma propriedade que também integra o projeto Tejo Wine Route 118. Neste dia, tivemos o privilégio de participar nas vindimas de Fernão Pires do produtor, assim como numa prova constituída apenas por vinhos desta casta. 

Para saber tudo sobre a casta branca mais expressiva de região do Tejo e de que forma esta se manifesta nas suas diferentes produções, junte-se a nós e continue a ler o artigo. 

A Fernão Pires no Tejo

Também conhecida como Maria Gomes, Gaeiro ou Molinho, a casta Fernão Pires é considerada a casta branca mais plantada em Portugal, sendo também a mais expressiva da região do Tejo.

Em todo o território português, são mais de 13 mil hectares de Fernão Pires; no Tejo, esta casta representa mais de 30% das vinhas, e mais de 60% das castas brancas da região. 

Característica por ser precoce e sensível à falta de água, a Fernão Pires destaca-se das demais pela sua versatilidade, desenvolvendo vinhos muito diferentes mesmo em produções varietais. Seus vinhos podem ser mais secos, ácidos ou com teor alcoólico variado, dos frisantes e leves até os mais estruturados, abafados, colheitas tardias ou com passagem por barrica de madeira.

Fernão Pires Casal Branco | Viva o Vinho

O terroir da região

Abrangendo não só todo o distrito de Santarém, excetuando o concelho de Ourém, mas também o concelho da Azambuja, situado em Lisboa (antigo Ribatejo), a região vitivinícola do Tejo já produz vinhos há milhares de anos, embora só tenha sido demarcada na década de 80.

Muito rica agronomicamente, aqui existem grandes culturas de hortícolas e cereais, mas acima de tudo vinhas. De acordo com João Silvestre, diretor geral da CVR Tejo, a partir dos anos 80 as vinhas têm perdido alguma área, passando de 20 para 12 mil hectares. No entanto, nos últimos anos tem se verificado uma transferência da área da agricultura para as vinhas.

Terroir de Tejo | Viva o Vinho
Em termos de terroir, esta região divide-se em três partes, como mencionado no artigo do nosso blog sobre a região — todos eles têm em comum a forte influência do rio que os abrange.

Assim, na margem direita do Tejo situa-se a zona do Bairro, característica pelos seus solos argilo calcários e pela produção de vinhos brancos e principalmente tintos. Junto à margem podemos encontrar a região do Campo, um dos solos mais ricos de Portugal. Dedicada essencialmente à produção de vinhos brancos, onde a casta rainha é a Fernão Pires, esta zona é uma das mais confortáveis para as vinhas crescerem.

Mais a sul, na margem esquerda do rio, está a Charneca. Aqui existe uma grande aptidão para a produção tanto de brancos como tintos. No entanto, o principal fator de diferenciação da região são os seus vinhos mais concentrados.

Vindimas na Quinta do Casal Branco

Foi no terroir da Charneca, bem perto da zona do Campo, pudemos participar das vindimas de Fernão Pires no Casal Branco. Aqui o solo caracteriza-se por ser essencialmente arenoso, repleto de vinhas em toda a sua extensão. Com a seca que tivemos neste ano em todo o país, muitas vinhas já tinham sido vindimadas logo no início de agosto.

Assim, as uvas que colhemos no final de agosto tinham um destino certo: produzir um abafado (um tipo de vinho fortificado) a partir de Fernão Pires. Logo após a colheita, a enóloga do Casal Branco, Joana Lopes, utilizou uma prensa vertical na qual foi colocado o cacho de uva inteiro. Em seguida, o mosto foi colocado em uma barrica para fermentar.

Vale lembrar que para desenvolver um vinho abafado, é necessário abafar a sua fermentação, ou seja, o vinho inicia a fermentação natural na barrica velha e, passados alguns dias, é adicionada aguardente à barrica para parar a fermentação. Esse é o princípio de todos os vinhos fortificados — como Porto, Madeira, Carcavelos, colheita tardia, entre outros —, apesar de cada um deles ter as suas particularidades.

Prova de Vinhos

Durante muito tempo, a região do Tejo desenvolvia vários lotes de vinhos brancos com Fernão Pires, mas raramente um monocasta. O cenário tem mudado nos últimos anos, por conta da versatilidade e potencial da casta, que chega a originar diferentes perfis de vinhos da região.

Para mostrar esse potencial, o evento ‘Fernão Pires do Tejo: da vinha ao vinho’ contou com uma degustação de dez exemplares monocastas de Fernão Pires, conduzida sommelier Rodolfo Tristão. Participamos nesta prova e pudemos conhecer muitas produções que são novidades no mercado. Veja nossas impressões logo a seguir.

Prova de Vinhos Fernão Pires | Viva o Vinho

Casa da Atela Fernão Pires Branco 2021

Esta produção da Casa da Atela traz o lado mais fresco e mineral da casta. O floral não está tão presente, talvez pela uva ser apanhada mais verde. Com um pouco de madeira, mas bem sutil, esta produção tem um perfil diferente, que nos agradou. Produzido pelo enólogo António Ventura, é um vinho leve, ótimo para petiscar e que pode ser bebido em qualquer momento do dia.

Quinta da Alorna Fernão Pires Branco 2021

Com vinhas na zona de transição entre Campo e Charneca, a Quinta da Alorna insere-se na Tejo Wine Route 118 e traz um vinho marcante pelo seu toque de salinidade. É um vinho fresco e gastronômico, com uma acidez que pede comida.

Cabeça de Toiro Terroir Fernão Pires Reserva Branco 2021

Inserido no terroir do Bairro, o Cabeça de Toiro Terroir Fernão Pires Reserva destaca-se por ser um vinho essencialmente marcado pela madeira. Jovem e com um perfil clássico, também traz as notas florais e de hortelã típicas da casta.

Gutta Supera Branco 2020

Proveniente da Herdade Tinto e Branco, o Gutta Supera vem de uma parcela de apenas 1,5 hectare de vinhas de 50 anos. Fermentado em madeira, traz notas diferentes do que estamos habituados, lembrando ervas aromáticas, que lhe conferem frescura e um toque mais exótico. Mais adocicado, é um vinho melhor ao final da refeição.

Casal da Coelheira Private Collection Fernão Pires Branco 2021

Proveniente de solos arenosos da região da Charneca, esse vinho tem uma acidez que pede comida. A passagem parcial por barrica, acompanhada de batonagem, dão mais estrutura e um final persistente.

Vinhos Fernão Pires Casal Branco | Viva o Vinho

Falcoaria Fernão Pires Vinhas Velhas Branco 2020

Uma produção da Quinta do Casal Branco, que hospedou este evento, o Falcoaria Fernão Pires Vinhas Velhas é a prova de que não se deve vindimar restritamente pelo calendário, mas acima de tudo no momento ideal para manter a acidez natural das uvas. Proveniente de uma vinha de 70 anos, foi fermentado inicialmente em cubas de cimento e, depois de três dias, passou para barricas, nas quais foi feito o processo de batonagem. Esse processo ressalta os aromas florais e adocicados, apesar de manter toda a sua frescura em boca. 

Encosta do Sobral Fernão Pires Vinhas Velhas Grande Reserva Branco 2020

Inserido num ambiente de encostas bastante acentuadas e de solos de xisto, o Encosta do Sobral é o primeiro vinho com Fernão Pires deste produtor. O exemplar com maior teor alcoólico da prova (14%), o vinho mantém todo o seu equilíbrio e elegância. Contrariando a tendência de uma zona tipicamente tinta, esse vinho traz a frescura de um branco único.

Monte Cascas Fernão Pires Branco 2014

Apesar de ser também uma estreia, este vinho destaca-se pela sua idade, pois o produtor optou por lançá-lo no mercado já com 8 anos — o que não é normal para um vinho branco. Daqui surgiu um vinho bem diferenciado, com uma coloração quase laranja e aromas mais evoluídos, que fogem do típico toque floral, conferindo uma experiência mais herbácea.

Quinta do Casal Monteiro Fernão Pires Grande Reserva Branco 2019

Vencedor do concurso regional que elegeu o melhor vinho do Tejo, este exemplar da Quinta do Casal Monteiro é difícil de encontrar em Portugal, pois destina-se principalmente à exportação. No nariz é muito aromático, trazendo mel e toques florais. Já na boca apresenta muito boa acidez e frescura, com excelente persistência.

Casal Branco | Viva o Vinho

E você? Gosta dos vinhos monocasta Fernão Pires ou é daqueles que prefere um blend? 

Comentários